sábado, 22 de maio de 2010

Nunca lhe prometi um jardim de rosas

No começo loucura pura, através da hereditariedade, da dor, da solidão e segregação; Loucura de imaginar o inexistente e apreciar o simples, loucura na essência da cor, da música, da luz que se acende e se vai, mas sempre volta a piscar; Loucura escrita, gritando num tom abafado "PAI, afasta de mim este cálice!"; Loucura que brota de um casulo em meio a um jardim de rosas; Loucura tão louca que se aproxima da sanidade.

Os homens são tão necessariamente loucos que não ser louco seria uma outra forma de loucura. Necessariamente porque o dualismo existencial torna sua situação impossível, um dilema torturante. Louco porque tudo o que o homem faz em seu mundo simbólico é procurar negar e superar sua sorte grotesca. Literalmente entrega-se a um esquecimento cego através de jogos sociais, truques psicológicos, preocupações pessoais tão distantes da realidade de sua condição que são formas de loucura — loucura assumida, loucura compartilhada, loucura disfarçada e dignificada, mas de qualquer maneira loucura.

Ernest Becker

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